sexta-feira, 22 de abril de 2016



Como o sonho de ver também na periferia a árvore-símbolo de Brasília, o advogado Rodolfo de Mello Prado transformou a própria casa em uma espécie de maternidade para a criação e posterior doação de minimudas de ipê. O projeto começou há quase nove anos, e mais de 50 mil plantinhas já deixaram a estufa do idoso, de 77 anos, para embelezar ruas nas 31 regiões administrativas do Distrito Federal.
Os "adotantes" assumem o compromisso de sempre aguá-las e cuidar delas. Também ganham uma plaquinha de PVC e um grafite, com o qual podem registrar o nome de alguém a quem querem homenagear.

Prado conta que começou a pensar a respeito depois de ver várias notícias sobre ecologia e poucas pessoas agindo efetivamente em prol do meio ambiente. Encantado com a beleza dos ipês, ele saiu com o filho de um amigo para colher sementes e tentar plantá-las em casa. Todas vingaram. Veio, então, a ideia de colorir a cidade.

"A gente colocava as mudinhas em saquinhos pretos e distribuía 2 mil, 3 mil mudas por evento [público que tinham conhecimento] nos primeiros três anos", lembra. Atualmente, os principais destinatários são escolas, igrejas e instituições sociais.
O homem decidiu então melhorar a estrutura em casa, na QI 21 do Lago Sul, e montou uma estufa de 70 metros quadrados. As mudas são irrigadas artificialmente, e há um funcionário para encher os saquinhos de terra. A coleta das sementes e o plantio na "sementeira", de isopor, são feitos pelo próprio advogado. O gasto anual com manutenção do espaço é de R$ 20 mil.
"Os ipês brotam depois de dois meses, aí temos de passá-los para um saquinho com 15 centímetros de terra. Eles desenvolvem 19 centímetros e então estão prontos para que ocorra a distribuição da minimuda", explica.
Prado cultiva duas espécies do ipê amarelo, uma do roxo, uma do branco e uma do rosa. Segundo ele, o objetivo não é promover reflorestamento, mas instigar a consciência ambiental nas pessoas. As mudas também podem ser compradas. Os preços variam entre R$ 2 e R$ 25, de acordo com o tamanho e a "embalagem".
"A gente não quer distribuir para qualquer um. A gente quer que essa pessoa que pegue leve para casa, cuide, de dois em dois dias ou todo dia coloque água lá. É como adotar uma criança, mas essa criança não chora, não faz xixi, não incomoda", diz. "Para a gente, essa consciência ambiental só aparece se a pessoa cuida de alguma coisa. Costumo fazer uma brincadeira com aquela frase de 'O Pequeno Príncipe' e digo que você se torna responsável por aquilo que cultivas."

O idoso diz que já recebeu encomenda de minimudas para lembrancinhas de festa. Ele mesmo tem dez pés de ipês e com alguma frequência recebe visitas de curiosos sobre o projeto. O neto, de 27 anos, eventualmente o ajuda a cuidar das plantas.
"A vida do ipê é uma analogia muito firme de evolução, de persistência. Ninguém se torna mais sábio da noite para o dia, por exemplo. Pensa na pessoa quando vai à escola e no plantio da mudinha de ipê. O crescimento deve ser feito o daquele ipê. É lento, mas sempre crescendo um pouco, e em determinado momento há a explosão em uma beleza admirável. Florido, o ipê é muito bonito. É quando a pessoa que foi educada começa a retribuir à sociedade aquilo que ela teve", compara Prado.
O homem, que nasceu em Minas Gerais e chegou ao DF em 1967, afirma ter preferência pelo amarelo por causa da "luminosidade". Ele conta passar três horas por dia na estufa com as plantas. O sonho é de um dia conseguir ampliar o projeto.


"Acho que quanto mais eu distribuir mais realizado eu fico. Eu sempre tive uma preocupação social muito grande, queria devolver à sociedade o que ela me deu por meio dos estudos e trabalho. Acho que a gente tem que retribuir um pouco. Gostaria imensamente de produzir 40 mil mudas no ano, mas esbarro na dificuldade financeira. Cansei de bater na porta de empresários, porque todo mundo tem dificuldade."

Capital do ipê

Prado afirma que foi aqui que aprendeu a se apaixonar por ipês. Ele chegou anos depois da inauguração da nova capital e por cinco anos testemunhou o também início da Universidade de Brasília, de onde foi diretor-administrativo por igual período. 

"Quando eu cheguei, Brasília era uma maravilha para se viver. Você tinha tranquilidade, espaço, o trânsito era maravilhoso. Tinha ainda a construir, um pouco de barro, mas faz parte. Aqui em Brasília você não tinha parente, você tinha amigo. A gente fazia amizade de uma profundidade tal que a pessoa viajava e deixava os filhos com a gente, com amigo. Uma solidariedade muito grande", lembra o homem.

Para o advogado, as políticas de doação de terras "destruíram" a cidade. "Brasília é uma ilha cercada de miséria por todos os lados. Saio, vou para fora, para São Sebastião, Santa Maria, e vejo se distribuo um pouco de ipê. Não tem nada plantado. O governo só faz as coisas no Plano Piloto, aí faz logo a plantação de umas 2 mil plantas. Passa em São Sebastião, não tem nada arborizado."
"Dizem que Brasília é uma cidade arborizada, mas pinoia, é o Plano Piloto. Fora não tem um pedaço de pau plantado. Na periferia é muito estéril, o governo não planta muita coisa, então eu forneço", conclui.
Praças de ipês
Por meio de uma parceria entre a TV Globo, o “Correio Braziliense”, a Digital Group e o GDF, quatro praças de ipês serão construídas na cidade. A Praça da Paz foi inaugurada no Parque da Cidade em março com árvores brancas. Em setembro, será a vez da criação da Praça da Cidadania, ao lado do Teatro Nacional, enfeitada por ipês amarelos. Ipês roxos serão plantados em Taguatinga na Praça do Respeito, em março de 2017. Em outubro de 2017 será inaugurada a Praça do Amor em Sobradinho, com ipês rosas.


Os ipês desabrocham entre junho e outubro seguindo a sequência de cores rosa, roxo, amarelo, verde e branco. Nativa do cerrado, a planta está presente em locais com temperaturas entre 18 °C e 26 °C e leva até 20 anos para desenvolver os troncos tortuosos com casca grossa. A altura pode variar entre 8 e 20 metros, e as copas coloridas duram uma semana, segundo a umidade do local.
Fonte: G1/DF

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