sexta-feira, 8 de abril de 2016

A horta comunitária do Morro Azul, em São Sebastião, surgiu como uma forma de protesto. A morte de uma moradora em agosto de 2004 por hantavirose foi a gota d'água para a comunidade. Os moradores decidiram, então, pegar a enxada e agir por conta própria: foi aí que o lixo saiu de cena e o medo deu lugar a uma conquista.

O líder comunitário Osmane da Silva tratou de reunir a comunidade e mostrar aos vizinhos que o projeto só traria avanços. “Essa era uma área com muito mato e muita sujeira. O fato da minha vizinha Marinalva Silva ter sido contaminada nessa região nos levou a reunir as pessoas e fazer uma horta comunitária aqui, onde era um local de jogar entulho. Queremos mostrar o quanto esse projeto faz bem para a nossa comunidade”, diz Osmane.

Ele conta que a horta ajuda também a levantar a auto-estima dos participantes. “Hoje essa horta nos dá muito prazer, até como forma de terapia. Às vezes, a gente está em casa, em lotes pequenos, sem infra-estrutura... quando a gente vem para cá, o contato com a terra ajuda a todos nós”, afirma o líder comunitário.

O projeto começou pequeno. Só cinco pessoas compraram a idéia. Mas hoje são 30 famílias, que se revezam para cuidar da horta. E eles foram atrás de ajuda: fizeram mutirões e aprenderam também com a Embrapa. Agora, caminham com as próprias pernas. O pedreiro Manoel Carvalho Santos tem na ponta da língua a receita que fez o projeto dar certo. “Uma andorinha só não faz verão. É muito importante a pessoa ter união. É todo mundo unido que chega lá. Deu certinho, graças a Deus, e vai dar cada vez mais”, acredita.

A comunidade teve que aprender a se organizar. Os homens lidam com a terra, cultivam as sementes. As mulheres mantêm a plantação junto com as crianças, que ajudam a irrigar a horta e a colher as verduras. Os moradores sentem o resultado até no bolso. “Isso aqui é uma maravilha. Ninguém compra mais. Essa alface aqui custa uns R$ 4 no supermercado. Hoje, a gente tira isso aqui de graça, só às custas do trabalho da gente”, orgulha-se a dona de casa Maria Edilene de Andrade.

A horta tem alface, cebolinha, coentro, mandioca e até algumas frutas. Tudo isso vai parar na mesa de quem cuida da plantação. Manter o local limpo trouxe até mais tranqüilidade para a vizinhança. Por quatro meses, eles ficaram sem notícias de assaltos. As brigas de rua, antes tão freqüentes, hoje são raras. “Aqui é tranqüilo para nós. Dormimos sossegados, sem pensar em nada. Aqui não tem bandidagem. Tem lá para baixo, mas aqui não tem!”, garante José Luiz Mesquita, de 80 anos.

O morador José Soares dos Santos também se sente mais seguro depois que o projeto ganhou corpo. “Antes, existia só medo. Existia medo até de passar por perto. Hoje, várias pessoas, até mesmo que não pertencem à nossa quadra, vêm visitar a horta. Isso aqui é um orgulho para a quadra 12 e até para São Sebastião”, diz.

Ainda falta muito a fazer. Nem o asfalto nem o esgoto chegaram ao local ainda, mas foi em um pequeno pedaço de terra que todos entenderam o que é viver em comunidade. Da horta, tiraram a lição: podem muito mais do que apenas esperar. “A horta significa orgulho, auto-estima; significa você dar a volta por cima. Viver a prática de um projeto comunitário, dividindo com os seus vizinhos, é fantástico!”, enfatiza Osmâne da Silva.

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